domingo, 15 de agosto de 2010

Paris

Uma tarde de vida

cai sobre a Île de la Cité

au quais de la Seine.

O rio rola manso e sempre,

como o tempo,

modulando a fachada ondulante

do museu D`Orsay,

acostumado no passado a ver passar o presente,

e agora congelando a vida,

nos espelhos rolantes de um Sena eterno.


No Quartier se eterniza a mocidade

ebulindo em graça a sua inquietude

nos bares, nos sebos, nos becos.

E na Moufetard entre blues e crêpes

ampliam o universo das écoles,

que a tornou universal.


Nos sentimos estranhamente domésticos

nestas vielas tortuosas do tempo,

entre comércios e cançonetas,

imaginadas de velhos realejos.


No Boulevard St`Michel

a vida apressa o passo

e se dissimula no movimento

dos automóveis,

que passam equivocados

a procura de uma vida

que enfim se acomoda

em frente ao fumo dos seus cafés.


As sombras das pontes sobre o Sena

revelam uma Paris misteriosa

revisitada dos bateaus;

e exibem à beira do cais

uma ora serena Conciergerie

e o Palais de Justice:

monumentos em defesa dos oprimidos

que o futuro implacável identificará


Os ossos expostos das suas catedrais

relembram um passado obscuro

de ouros e poderes,

assaltados das paixões da Liberdade

ao longo dos tempos.

E na face perdoada da Madeleine

que mira uma confusa Concorde,

ainda se sente o cheiro acre do sangue

dos Luises de uma revolução justa.


Um espigão de glória e aço

fura o céu em frente ao Champ de Mars :

uma tour Eiffel distrai a vaidade

de uma cidade eterna,

mostrando sem pudor,

suas torres e seus telhados,

numa devassa e constante Exposição.


Uma Ópera substitui a Bastille demolida,

na conquista de um passado,

enquanto o cimento se impõe

na Defense de um futuro inacreditável

mas presentemente dispensável.


Propositalmente esquecida

na vertigem das suas volutas

se impõe uma Montmartre mágica

ao calor dos seus chauffeurs,

numa desatada maré de arte e boêmia

que lava em vinho os pés operários

e em falso ouro

as mãos mercantis de seus atores.


Da desairosa Tour de Montparnasse

corre um trem sob o céu aberto

em busca de uma Versailles quimérica,

glória e decadência

de um reinado de excessos.

E agora por entre seus luxos e jardins

invade, incólume, um povo estranho

apenas ávido de passados rumores.



Uma Paris sempre revista

finalmente um dia

se exibirá.

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