HOMEMCIDADE
Dagoberto
Sant’Anna
Mergulha insano pelas vias atulhadas
entre as mecânicas almas
dos que passam.
Mais uma entre as equivocadas vidas,
perdidas numa cidade inútil e cruel
Confunde destinos e caminhos
e em meio a turba amorfa,
que baila sem rumo uma frenética
dança,
carrega seu corpo vestido
de eternas idas e voltas.
Traz carros, telefones e
computadores,
colados a sua pele, como pele
Aspira o escaldante fumo do progresso
aos frios porões do seu peito
e da sua mente embotada
de drogaesperanças.
Corcel impávido, furioso dragão
Disparando lanças de fogo em todas as
direções
Cresce a urbe, incontida
Galgando vãs alturas e desvãos
Medusa sedutora
A transformar em pedra
Olhares levianos
Que a degustam ou a consomem
Como um apaixonado estupro.
Oh! Cidade ódioamada!
O homem indefeso, impotente
ignora a imensa cidade-aranha
que lança seus toscos palpos
a insupeitáveis horizontes,
insaciável de terras e aguas,
de corpos, de almas
O homem impotente, indefeso
Mistura verdades e quimeras
No ôco dos bares, igrejas e estádios
Numa desmesurada ânsia de si
Sucumbe enfim nas noites mornas e
mortas
sob as suas luzes tristes,
às ácidas tonturas
dos seus doces sonhos.