sábado, 8 de dezembro de 2012


HOMEMCIDADE           

Dagoberto Sant’Anna

Mergulha insano pelas vias atulhadas

entre as mecânicas almas

dos que passam.

Mais uma entre as equivocadas vidas,

perdidas numa cidade inútil e cruel

 

Confunde destinos e caminhos

e em meio a turba amorfa,

que baila sem rumo uma frenética dança,

carrega seu corpo vestido

de eternas idas e  voltas.

 

Traz carros, telefones e computadores,

colados a sua pele, como pele

 

Aspira o escaldante fumo do progresso

aos frios porões do seu peito

e da sua mente embotada

de drogaesperanças.

 

Corcel impávido, furioso dragão

Disparando lanças de fogo em todas as direções

Cresce a urbe, incontida

Galgando vãs alturas e desvãos

Medusa sedutora

A transformar em pedra

Olhares levianos

Que a degustam ou a consomem

Como um apaixonado estupro.

Oh! Cidade ódioamada!

 

O homem indefeso, impotente

ignora a imensa cidade-aranha

que lança seus toscos palpos

a insupeitáveis horizontes,

insaciável de terras e aguas,

de corpos, de almas

 

O homem impotente, indefeso

Mistura verdades e quimeras

No ôco dos bares, igrejas e estádios

Numa desmesurada ânsia de si

 

Sucumbe enfim nas noites mornas e mortas

sob as suas luzes tristes,

às  ácidas tonturas

dos seus doces sonhos.