me acho,
me deito,
me esborracho
me faço
e me refaço,
no bagaço do meu coração;
no carnaval me canso,
da ilusão.
O carnaval é vida de teatro,
é ato,
é cena,
é papel,
o carnaval é um papel.
O carnaval é cara,
a cara é boa,
no carnaval ressoa a pessoa,
atrás da máscara,
o carnaval é cáscara
sagrada,
agrada e degrada a realidade,
na dicotomia do ser
e do não-ser.
O carnaval é saudade,
é vaidade,
é prazer.
O carnaval é corpo, suando corpo, suando corpo suando, corpo suando corpo suando, corpo.
O carnaval é zoada,
soada em dó,
em todas as cordas,
acordas e ouves os tons:
quem sabe quem sustem os sons,
a tensão,
o tesão das notas ?
Anotas os ouros,
os tesouros,
mas não as mãos
que te afagam,
na calma ou na sofreguidão
e dão-se as mãos,
na folia,
na orgia,
fantasia,
na Bahia ou no Japão,
nada diz não,
nada se nega,
entrega sem condição.
No carnaval sou igual,
fico bom,
fico mau,
sou normal.
Sou tal e qual
uma nau
a deriva,
me cativa a solidão
em meio à turba,
enquanto a turma
me cativa no salão.
O Carnaval é raça,
é caça,
é arruaça,
o carnaval é taça do melhor fel.
O carnaval é véu sobre a desgraça,
entorpece a massa,
na praça, no carrossel.
O carnaval é Bel.
No carnaval sou cio,
sou carne, sou carnal,
sou ousadia,
alegoria do Bem
na morada do Mal,
no carnaval sou animal.
No carnaval sou trio, sou mil, sou multidão,
sou só no meu vazio
total, sou todos, sou fração,
sou mão na sua mão,
sou sozinho, sou só paixão.
Enfim, no carnaval
o real é fantasia,
anestesia
o uso da Razão.