sábado, 24 de julho de 2010

Exorcizando a Segunda

......Porque me sabe a segunda - feira como um fardo,

como um pesado fardo que esmaga e amortece

corpo e alma........



A segunda-feira fincou suas raízes negras,

profundas, tenebrosas,

sobre o espírito das coisas.

Amealhou o peso guardado

no mais fundo das consciências,

as culpas, musguentas,

assentadas por anos,

domingo após domingo.

As culpas que escorrem dos meus pés

como uma gosma espessa

e fica grudada nos meus sapatos

até a terça,

quando ressecada,

se disfarça em graxa

e asa

de uma nova semana,

para retornar

com ímpeto de esposa ciumenta,

ressentida,

assim que desçam pesadas

as pálpebras de um passado e inocente domingo.



Sinto, ainda deitado na minha cama de preguiça,

o horror que se descortina

na perspectiva nevoenta de um dia

que já se insinua longo e ácido,

como as noites insones.

E faço-me suficientemente covarde

para, de novo,

enovelar-me

entre tépidos lençóis

na busca frenética,

de alcançar em rápida fuga,

as raias de uma

tão próxima

quanto saudosa véspera.




Paradoxalmente encantado,

como as mariposas à procura do lume,

às vezes a antecipo, oh segunda,

numa vesperal sorumbática

de um ainda domingo,

de músculos exaustos,

de pesos sobre a fronte,

de mórbidos humores;

ora me apercebo

em meio ao processo autodestrutivo

e a tempo me corrijo:

perfilo-me como a tropa madrugada,

espanto o corvo agourento da angústia

pousado entre meus olhos,

espano da pele o medo,

como o cão às gotas da chuva.

E volto a existir, como os mortais,

dos anseios da carne e da alma,

do pulsar fremente das veias,

da tontura dos vinhos.



Pesa-me o destino quando ela,

teimosa e irreverente,

como um assalto,

talvez por perceber-se estranha

e rejeitada,

simula-se deusa sedutora

e nua, abraça-me em loucura o colo

e estende-se incômoda e dissimulada

sobre minhas estreitadas espáduas,

num dormir profundo e desgastado

de bêbado.

Enfim, poderosa,

prolonga, dia após dia,

tão ansiada despedida,

semana a fora,

sem cerimônia,

portando cínica e orgulhosa,

uma bandeira das cinzas

de uma glória vã

e de razões estúpidas,

desencravada

do topo da montanha de ilusões

e euforias

de um fim de semana.

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