......Porque me sabe a segunda - feira como um fardo,
como um pesado fardo que esmaga e amortece
corpo e alma........
A segunda-feira fincou suas raízes negras,
profundas, tenebrosas,
sobre o espírito das coisas.
Amealhou o peso guardado
no mais fundo das consciências,
as culpas, musguentas,
assentadas por anos,
domingo após domingo.
As culpas que escorrem dos meus pés
como uma gosma espessa
e fica grudada nos meus sapatos
até a terça,
quando ressecada,
se disfarça em graxa
e asa
de uma nova semana,
para retornar
com ímpeto de esposa ciumenta,
ressentida,
assim que desçam pesadas
as pálpebras de um passado e inocente domingo.
Sinto, ainda deitado na minha cama de preguiça,
o horror que se descortina
na perspectiva nevoenta de um dia
que já se insinua longo e ácido,
como as noites insones.
E faço-me suficientemente covarde
para, de novo,
enovelar-me
entre tépidos lençóis
na busca frenética,
de alcançar em rápida fuga,
as raias de uma
tão próxima
quanto saudosa véspera.
Paradoxalmente encantado,
como as mariposas à procura do lume,
às vezes a antecipo, oh segunda,
numa vesperal sorumbática
de um ainda domingo,
de músculos exaustos,
de pesos sobre a fronte,
de mórbidos humores;
ora me apercebo
em meio ao processo autodestrutivo
e a tempo me corrijo:
perfilo-me como a tropa madrugada,
espanto o corvo agourento da angústia
pousado entre meus olhos,
espano da pele o medo,
como o cão às gotas da chuva.
E volto a existir, como os mortais,
dos anseios da carne e da alma,
do pulsar fremente das veias,
da tontura dos vinhos.
Pesa-me o destino quando ela,
teimosa e irreverente,
como um assalto,
talvez por perceber-se estranha
e rejeitada,
simula-se deusa sedutora
e nua, abraça-me em loucura o colo
e estende-se incômoda e dissimulada
sobre minhas estreitadas espáduas,
num dormir profundo e desgastado
de bêbado.
Enfim, poderosa,
prolonga, dia após dia,
tão ansiada despedida,
semana a fora,
sem cerimônia,
portando cínica e orgulhosa,
uma bandeira das cinzas
de uma glória vã
e de razões estúpidas,
desencravada
do topo da montanha de ilusões
e euforias
de um fim de semana.
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