segunda-feira, 30 de agosto de 2010

AMIGOS NO GALEÃO SANTA ANNA - BARRA GRANDE (clique na foto)

BRINDE



Eu brindo com amigos

a efêmera eternidade do segundo.

Não brindo a futuros!

Brindo ao tim-big-tim-bang

do agora!

Brindo ao encontro presente,

brindo ao centro do mundo:

o momento,

que explode entre as taças

como uma nascente caudalosa do tempo.

O encontro único

dos cristais da realidade,

sólidos e límpidos,

eternos e fugazes.



À dureza do cristal-tim !

À fragilidade do instante-tim !

sábado, 21 de agosto de 2010

A Mulinha (01/01/1970)




A mulinha vinha cêdo

carregada,

 acordar

com seus latões de cobre

a tilintar

e a compor a sonata

do leite amanhecendo,

seus mal amanhecidos fregueses



A mulinha vinha...

notícia sonora do cêdo pasto

com seu leite morninho, terno

roubo do leite materno

talvez

de um bezerro manso e lerdo



A mulinha vinha...

...........................

Hoje,

"Seu" Turíbio,

o proprietário,

comprou uma kombi.

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

...ando fraseando....

Viver é como uma fruta: é doce, é doce, é doce...


Viver é como uma fotografia: o original é sempre em preto e branco. Só você pode colori-la.

Viver é como estar nas nuvens: voe alto, veja tudo. Chova se necessário. Mas não deixe de ver o Sol raiar.

Viver é como o mar: há marés cheias e há marés vazias. O importante é que ele esconde os peixes e as
pérolas.

Se viver é ver, vi! Se ver é viver, vivi!

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Morrer de Amor

Sempre a temer me deito

que esse mundo então se acabe.

Pois se não morro no leito

do jeito que a gente sabe

já não fico satisfeito,

mesmo que a fronha babe

e o sonho seja perfeito

terça-feira, 17 de agosto de 2010

AQUARELA

 O gracímetro é um instrumento que mede a graça da vida. Ele fica no meio de nós, talvez próximo ao coração.... Não há que aferí-lo e sim à vida, tantas vezes desvirtuada dos seus verdadeiros caminhos. E sim ao verdadeiro sentido do prazer!!

A poesia me atrai mais do que a prosa, porque ela é mais borboleta....e mais me diverte acompanhar o seu vôo incerto e seu incerto pouso!!

É isso... ! Tem que ir direto da mente para a mão como num mouse sem fio. Há que ignorar as palavras (oh! paradoxo) ou fazê-las instrumento, peças automáticas (oh! paradoxo). As palavras são traiçoeiras (oh!paradoxo), com as suas diversas significações, nuanças e possibilidades. Não há que cantá-las e sim decantá-las para que boiem os significados, as verdadeiras e genuínas idéias!

Anotar todos os pensares que ocorrem a todo momento. Não deixar que sedimentem impunemente e alimentem o esquecimento. Enfim, combater esta vasta e mundial "Literatura Perdida"


Há também o sentido anti-audição ou melhor de audição avançada : ouvir o silencio ! Talvez mais dificil ainda seja percebê-lo, em todas suas nuances.


Que padoxo! A poesia que retiro do mundo não é nada mais do que abstração do próprio mundo!

O haikai seria uma poesia presa numa caixa de fósforos?

Estariam certos os adeptos do poema métrico!!?? O que mais aproxima a poesia da geometria é a má/temática!!

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Pá / lavra

                              Vejo uma pequena aranha
                     a balançar seu corpo solta no ar.
Não vejo o que lhe prende o minúsculo corpo.
                                                                     Apenas
                                                                                descon/fio

                                  **********************

O felino anda de maneira curiosa dentro da mata.
Seus quadris tem uma espécie de dissincronia:
                                                   deseng/onça

                                  @@@@@@@@@@@@

O leão dorme , dorme..... Disfarça!
Assim niguém o imagina feroz
 momentos antes sobre a caça:
                              Cama/leão

                                 &&&&&&&&&&&&&&

Não tem vergonha
 em tentar nos fazer de cegos,
                           a cego/nha?

                                    ¢¢¢¢¢¢¢¢¢¢¢¢¢¢¢¢¢¢¢¢¢

Na arca de Noé,
o Criador tinha reservado apenas um bicho
para o nosso país,
mas,
        deu zé/bra!

Affonso Romano de Sant'Anna participa de mesa que homenageia Clarice

Affonso Romano de Sant'Anna participa de mesa que homenageia Clarice

Haikais

           Perfeição                                                        Crepúsculo
         Procuro o hai-kai                                          Antes de deixar
perfeito que mora no peito                             o posto, o Sol mira seu rosto
            e não sai                                                    no fundo do mar

                      
                                               
          Paradoxo                                                         Inspiração
                                                                                
          Na folia                                                 Dí-me inspiradora musa:
do Carnaval, o mais real                                    se agora estás lá fora,
        é a fantasia                                                       quem me usa ?




Bahia de Todos os Santos                                           Cegueira

           Imensa bacia.                                              ...porque não vi,
Seus fortes guardam recortes                                 não ouvi, não senti
             de maresia                                             se estive sempre aqui ?




     Vigilante do peso                                                     Poeta

      À frente a meta.                                                   Doce lida:
Como ir avante, oh vigilante,                            extrair o sumo e o resumo
       sem a dieta?                                                        da vida

domingo, 15 de agosto de 2010

Paris

Uma tarde de vida

cai sobre a Île de la Cité

au quais de la Seine.

O rio rola manso e sempre,

como o tempo,

modulando a fachada ondulante

do museu D`Orsay,

acostumado no passado a ver passar o presente,

e agora congelando a vida,

nos espelhos rolantes de um Sena eterno.


No Quartier se eterniza a mocidade

ebulindo em graça a sua inquietude

nos bares, nos sebos, nos becos.

E na Moufetard entre blues e crêpes

ampliam o universo das écoles,

que a tornou universal.


Nos sentimos estranhamente domésticos

nestas vielas tortuosas do tempo,

entre comércios e cançonetas,

imaginadas de velhos realejos.


No Boulevard St`Michel

a vida apressa o passo

e se dissimula no movimento

dos automóveis,

que passam equivocados

a procura de uma vida

que enfim se acomoda

em frente ao fumo dos seus cafés.


As sombras das pontes sobre o Sena

revelam uma Paris misteriosa

revisitada dos bateaus;

e exibem à beira do cais

uma ora serena Conciergerie

e o Palais de Justice:

monumentos em defesa dos oprimidos

que o futuro implacável identificará


Os ossos expostos das suas catedrais

relembram um passado obscuro

de ouros e poderes,

assaltados das paixões da Liberdade

ao longo dos tempos.

E na face perdoada da Madeleine

que mira uma confusa Concorde,

ainda se sente o cheiro acre do sangue

dos Luises de uma revolução justa.


Um espigão de glória e aço

fura o céu em frente ao Champ de Mars :

uma tour Eiffel distrai a vaidade

de uma cidade eterna,

mostrando sem pudor,

suas torres e seus telhados,

numa devassa e constante Exposição.


Uma Ópera substitui a Bastille demolida,

na conquista de um passado,

enquanto o cimento se impõe

na Defense de um futuro inacreditável

mas presentemente dispensável.


Propositalmente esquecida

na vertigem das suas volutas

se impõe uma Montmartre mágica

ao calor dos seus chauffeurs,

numa desatada maré de arte e boêmia

que lava em vinho os pés operários

e em falso ouro

as mãos mercantis de seus atores.


Da desairosa Tour de Montparnasse

corre um trem sob o céu aberto

em busca de uma Versailles quimérica,

glória e decadência

de um reinado de excessos.

E agora por entre seus luxos e jardins

invade, incólume, um povo estranho

apenas ávido de passados rumores.



Uma Paris sempre revista

finalmente um dia

se exibirá.

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Licença Poética

Saudade tenho eu da idade ida

em cima à torre, a carpintar meu verso,

burilar a estrofe, ceder à medida,

domar a solfa em compasso reverso.

 
Hoje, em meio à exaustão da lida

procuro em mim o estro, tão disperso...

a verve seca, a emoção contida,

descontruidos num jogo perverso.

 
Quando no afã do achar-me fuja a rima

e me descubra a versejar sem metro

permita que este vate assim se exprima:

 
como da alma se extirpasse a estima

do rei, à força, se tomasse o cetro

ou da viola se roubasse a prima.

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

Existencialismo

Herdei do tempo a angústia

de quem vive à toa,

de quem vive à toda

e não se apega ao enredo,

que oscila impávido entre a glória e o medo,

que caminha trôpego entre a popa e a proa;

Da vida aproveitei o desalento

que mora na certeza entre os contrários

e existi momento por momento

na trama dialética dos cenários;

Se tive por bandeira a existência

aérea, fluida, mutante

e cultivei sob a pele a sua essência

fiz do momento, presente

de dádiva, o instante

Juntei então por fim os fragmentos

do que pude ser dia-após-dia

e se alguma amarra me serviu de alento,

dispensei-a incontinente, sem valia,

até que o existir me devolvesse à guia

e o real me libertasse o pensamento.

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Fiat Lux





Uma primeira e inocente estrela disparou seu lume
contra a profundeza insólita do espaço,

 inaugurando a ilusão azul do céu.


 

Então, o Dia, exibiu vaidoso, sua aquarela

na paleta das retinas,

chamando em cores todas as alegrias.





 
Enquanto a Noite, espantada,

Recolheu-se medrosa aos seus escuros,

e apenas permitiu à Lua

clarear nostálgica

sôfregos amores.


domingo, 8 de agosto de 2010

CONFLITO

Deus lhe acompanhe !

Ouvia um eu,

menino,

mirrado,

quando saía pra rua

despreocupado,

à toa,

descrente;


Deus lhe acompanhe !

Ouvia um eu,

rapaz,

taludo,

quando saía pra rua

ateu,

ímpio,

rebelde,

desgovernado;


Um eu hoje,

homem,

aflito,

irrequieto,

temeroso,

maniqueísta,

repudio e almejo,

ao sair pra rua,

um Deus lhe acompanhe,

que nunca mais ouvi !

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

OS SAPATOS DOS MEUS FILHOS

Antes eram sandálias,

Inocentes, puídas,

erodidas no dedão ou no talo,

largadas,
libertas dentro dos muros,

sempre perdidas,

sempre achadas por mãos zelosas;

não tinham métodos,

não tinham modos,

apenas personalidade :

na cor, no tamanho, no cheiro,

no desprendimento com que eram abandonadas

ou descartadas

Crescidos,

Serão sempre filhos sob o mesmo teto.



agora são sapatos,

fechados, sisudos, escuros

agora são sandálias,

altas, elegantes, enfeitadas, plataformas,

agora também sapatilhas,

leves, descontraídas;

ainda largados,

em limites menos amplos,

às avessas dos donos;

comumente sobem escadas,

mimetizando os próprios,

proprietários :

em cada degrau um par,

gradativos,

insupeitàvelmente estafados,

surpreendentemente refeitos;

alguns com meias para fora,

como línguas,

parecem cansados :

degraus acima, recuperados dos fôlegos

exibem uma invejável saúde;

outros já tombados na batalha dos dedos,

parecem vencidos:

depois renascidos, entalcados,

recuperam, heróicos, suas utilidades;

às vezes suarentos, empoeirados, descadarçados,

por inúteis, são aposentados:

um dia,

imediatamente encerados, recompostos,

ressuscitam garbosos,

para alegria de todos;

há os molhados da chuva:

hoje parecem perdidos de lama,

logo refeitos, ao próximo sol,

apresentam insuspeitas performances;

há tantos outros ............ !

há os acomodados,

há os rebeldes,

há os que voltam de festas,

há os que voltam de férias,

há os que não voltam.
E há, com certeza, os que apenas foram sonhados, cobiçados,

mas que jamais existiram,

por não se adequarem às parcas mesadas.

Os sapatos dos meus filhos

têm vida, como vidas.



TODOS OS NEGÓCIOS (poema práxis)

Ócio.

Nego o ócio

quando me falam de negócio.

Mas nêgo, o ócio

é negócio!

Quando negocio, nêgo

nego o cio:

antes, negocio

com negociantes.

E se negaceio, nêga,

sei - o.

Se nêgo nega cio,

nêga nega seio

e ceia

e outros negócios.

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

SABIÁS E BEM-TE-VIS

Meu vizinho tem um jasmineiro desconcertante

sempre em flor

onde brincam os colibris

e meu olhar;

Nos seus galhos vagueiam

sabiás e bem-te-vis,

voados do lado de cá,

libertos,

desconhecendo os limites,

transpondo os muros,

burlando as normas,

nossas;


Invadem, atravessam, misturam

irreverentes,

cortando espaços,

recortando posses,

confundindo mundos,

resgatando uniões,

                               idealizadas,

                      universalmente planejadas,

diariamente negadas.


Os sábios sabiás,

os alertas bem-te-vis,

como será que dividem os seus mundos?