quarta-feira, 28 de julho de 2010

Doce Praga





 

Para Ivete Nicolau, minha esposa,

de sonhos de uma Primavera


O sabonete no Hotel era de erva-doce.

e perfumava toda a cidade.

As ruas, labirinto lógico, sóbrias, tinham um gosto de cais distantes.

Uma moça na esquina, esculpida,

distribuía uma sensualidade

agora permitida,

que circulava, polinizada, nos sobretudos,

escuros como o fumo dos automóveis.


Com ares de mundo a Cidade Pequena

desembocava na ponte Carlos,

onde a arte encobria a tristeza:

a ocupação depois da Ocupação.



Contudo, no oco das igrejas

ressoava uma música pura, isenta.


Nos trens lotados, urbanos,

transitava a mágoa, subterrânea.


As casas iguais, os carros iguais,

afastados, periféricos, esqueciam,

abandonado, o velho caminhão,

de uma guerra indesejada.


Entrincheirado nos bares

sobrevivia o absinto,

das agonias de passados boêmios.

Uma promessa de céu, à tona da terra.


Tinha flores nos bondes, semeando cores,

negadas em passada primavera,

entre os velhos edifícios.
 E o bonde da serra,

 acima da paz dos castelo

 despia em ouro as cúpulas

 e os pináculos,

 descobrindo um verde

 que corria para o horizonte.




O Vlatva só passava, passava, solene,

preso nas curvas,

cheias de histórias.

Um forte cheiro de erva-doce prendeu a saudade.

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