de sonhos de uma Primavera
O sabonete no Hotel era de erva-doce.
e perfumava toda a cidade.
As ruas, labirinto lógico, sóbrias, tinham um gosto de cais distantes.
Uma moça na esquina, esculpida,
distribuía uma sensualidade
agora permitida,
que circulava, polinizada, nos sobretudos,
escuros como o fumo dos automóveis.
Com ares de mundo a Cidade Pequena
onde a arte encobria a tristeza:
a ocupação depois da Ocupação.
Contudo, no oco das igrejas
ressoava uma música pura, isenta.
Nos trens lotados, urbanos,
transitava a mágoa, subterrânea.
As casas iguais, os carros iguais,
afastados, periféricos, esqueciam,
abandonado, o velho caminhão,
de uma guerra indesejada.
Entrincheirado nos bares
sobrevivia o absinto,
das agonias de passados boêmios.
Uma promessa de céu, à tona da terra.
Tinha flores nos bondes, semeando cores,
negadas em passada primavera,
entre os velhos edifícios.
E o bonde da serra,
acima da paz dos castelo
despia em ouro as cúpulas
e os pináculos,
descobrindo um verde
que corria para o horizonte.
O Vlatva só passava, passava, solene,
cheias de histórias.
Um forte cheiro de erva-doce prendeu a saudade.
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