Meu livro de poesias
Ganhou corajoso, a sala
Onde vadeia a família.
Saiu da estante onde restava
Estanque
Perfilado
Como tantos outros
Esquecido
Sério, impenetrável
Quiçá insosso.
Agora convive distraído
Entre o porta-retratos
E o tabuleiro de xadrez
Na mesa de centro.
Almeja concorrer, destemido
Com a última noticia
Ou com a última novela.
Certamente será lido...
Um dia será lido ...
Curiosa ou distraidamente,
será lido.
Mas,
Deseja mais :
Sonha com as ruas
Na poeira dos carros
No suor dos trabalhadores
Na paz dos bancos dos aposentados
No balançar preguiçoso
Do ultimo vagão
Do trem do subúrbio
Pensa um dia ser banal,
Comum, diário,
Inquestionável como as cédulas;
Impessoal ,
Como os bilhetes do metrô;
Urbano
Como já são os pardais.
Comum, tão comum,
Que seja trocado, doado
Vendido, ou até queimado.
Que seja esquecido e achado
Ou como quer o poeta,
até jogado pela janela.
Que fique pendurado,
Como os cordéis.
Chutado, a guisa de bola.
Colecionado,
Como os maços vazios dos cigarros.
Consultado, como os almanaques.
Escondido, como os “catecismos”.
Que tome sol,
Que tome chuva.
Que nada tome.
Sonha apenas estar presente
No meio de todos
Que todos tenham sobre si
Alguma idéia.
Que todos façam sobre si
Algum juízo.
Ser conhecido,
Ser comentado,
Ser criticado,
Ser elogiado,
Ou execrado, quem sabe ?
Quem sabe,
Algum intelectual
Nele perceba
Algum valor
E o leve
Para as academias
Para as bibliotecas
Para as escolas
Quem sabe, algum livreiro
Nele perceba
Outro valor
E o leve
Para as quermesses
Para as feiras
Para as livrarias
Quem sabe não tenha valor
Mas, não será
Por isso discriminado
Que seja considerado assim
Apenas assim
Como livro
Um objeto nobre
Privilégio de alguns
Pérola, relíquia
Diamante fino
Guardado a sete chaves
Que reste protegido
Como um sortilégio
Num puro relicário
Raro aparador
Nobre prateleira
Estante.
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