domingo, 3 de outubro de 2010

A Minha Rua

A minha rua tinha paralelepípedos

que se dobravam à luz da lua,

onde escorria o rio e as estórias.

Tinha ruídos como música

e os seus cheiros me enlaçavam,

até onde já não era mais eu ou a cidade.


Naquele tempo, eu ainda não sabia

que o moço encontrava o velho

nas suas esquinas.

Naqueles tempos de outrora!


A minha rua era um rio

a me levar inteiro, vida afora,

por entre meus eus.

E eu me encontrava

por nunca me ter perdido


Tinha palhaço e tinha doida,

a minha rua,

e tinha mais:

tinha toda a verdade do mundo.


Como fugir do amor ingênuo,

do sonho, do medo,

dos mitos e segredos,

que pairava sobre os sobrados

ou circulava nos becos;


Como negar as vergonhas,

como esconder as mentiras

que se acobertavam sob os panos,

e se esgueiravam nas gretas, nos oitões.


Como dizer que ela era minha

e encontra-la repetida em cada canto.

A minha rua me tinha,

e eu pensava que tinha a minha rua.


Na minha rua enfim

ressoava a universal melodia,

que me transbordava o peito e o pensamento

e deixava a maldade

se esvaindo no frescor da noite.

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