A minha rua tinha paralelepípedos
que se dobravam à luz da lua,
onde escorria o rio e as estórias.
Tinha ruídos como música
e os seus cheiros me enlaçavam,
até onde já não era mais eu ou a cidade.
Naquele tempo, eu ainda não sabia
que o moço encontrava o velho
nas suas esquinas.
Naqueles tempos de outrora!
A minha rua era um rio
a me levar inteiro, vida afora,
por entre meus eus.
E eu me encontrava
por nunca me ter perdido
Tinha palhaço e tinha doida,
a minha rua,
e tinha mais:
tinha toda a verdade do mundo.
Como fugir do amor ingênuo,
do sonho, do medo,
dos mitos e segredos,
que pairava sobre os sobrados
ou circulava nos becos;
Como negar as vergonhas,
como esconder as mentiras
que se acobertavam sob os panos,
e se esgueiravam nas gretas, nos oitões.
Como dizer que ela era minha
e encontra-la repetida em cada canto.
A minha rua me tinha,
e eu pensava que tinha a minha rua.
Na minha rua enfim
ressoava a universal melodia,
que me transbordava o peito e o pensamento
e deixava a maldade
se esvaindo no frescor da noite.
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